Por vezes é inevitável. Parece amontoar-se à porta da nossa consciência um conjunto de farrapos imundos que temos de mandar para a lavandaria. A lavandaria pode ser a sociedade, que mastiga os temas e faz dos nossos filhos a sua síntese. Depois, a estrutura já está definida e nada se fez enquanto o problema foi de conjuntura.
Há quem diga que o problema dos programas que as várias TV´s nos dirigem não é propriamente a sua existência mas sim a impossibilidade de escolha para alguns.
Concordo, mas não tanto.
Há quem diga que o problema dos programas que as várias TV´s nos dirigem não é propriamente a sua existência mas sim a impossibilidade de escolha para alguns.
Concordo, mas não tanto.
Relativamente à existência de tais consumíveis parece-me extremamente saudável que existam. Como se costuma dizer, é algo que vem com o território e o território da democracia tem escolhos que advêm precisamente do reconhecimento que se faz da sua natureza – é um sistema de organização social que pretende ser o melhor dos piores. É, contudo, um princípio sem o qual já ninguém consegue (nem quer) viver.
Conjuntamente com a democracia vem precisamente o direito à escolha. Podemos escolher ou não ver os referidos programas que enchem os “horários nobres” da nossa televisão. Imediatamente me alertam: “bem, isso é verdade, mas quem só tem os quatro canais nacionais”? Como é que faz? Parece inevitável, não é?
Não. Não é. O problema não está no maior ou menor número de canais de televisão, mas sim no maior ou menor número de possibilidades de aculturação individual ou colectiva que cada indivíduo conhece, tem ao seu dispor e tem coragem e prazer em utilizar. O problema está em fazer-se da televisão mais do que aquilo que ela é – um electrodoméstico ultrapassado. O problema está em ser este o meio, o instrumento aglutinador, que mais difunde “cultura” na maioria da sociedade, condicionando gostos, influenciando comportamentos e transmitindo o “não conhecimento” de forma acrítica, diminuindo cada vez mais outros canais, como por ex., os livros, as bibliotecas, as tertúlias, os amigos, a família, a escola, o sol e lua.
Entenda-se. Tudo aquilo que a as televisões transmitem é (ou deve ser) legítimo numa sociedade. Mas essa sociedade só será, precisamente, moderna, civilizada e democrática se for capaz de fazer emergir capacidades, atitudes e comportamentos de mudança face a ideias feitas ou a imobilismos sociais condicionadores de amanhãs presentes.O direito à escolha apenas se concretiza pela existência de opções e elas existem. Chegar a casa às oito na noite e concluir que não “dá nada de jeito na televisão” é um lugar comum. Já menos comum é ser capaz de não chegar a essa conclusão.
Saudações,
Mestre Cabrão de Nafarros
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