É irresistível. No metro, no comboio, no autocarro, na esplanada, seja lá onde for, a tendência para espreitarmos a vida dos outros é irresistível. E descarada. Diria que é um tique. Qualquer coisa de espontâneo, incontrolável, insolúvel. O que só mostra que está bem enquistado na nossa maneira de ser. Eu dou já um exemplo.
Não sei se já repararam. O fulano que entra no metro e senta-se ao lado de um outro fulano que lê um livro ou um jornal. Os seus olhos desviam-se acrobaticamente no sentido de espreitar o título do livro. Ou então a fulana que entra num comboio apinhado de gente e fica no corredor a espreitar a revista que uma outra fulana lê sentada. Ou então ainda o fulano que se senta ao pé de outro que escreve uma mensagem no telemóvel espreitando o texto. Ou ainda o silêncio que se faz quando alguém fala ao telemóvel por forma a ouvir a conversa.
Todos funcionamos assim. E ficamos muito frustrados quando alguém, movido pelo interesse de esconder o seu "pecado", resolve plastificar o livro que lê com papel opaco que não permite sequer ver a cor da capa. É que, assim, ninguém sabe o que ele lê! E quando estes anarquista aparecem ficamos logo mal dispostos.
Coisas da vida!
Acrobaticamente vosso,
Cabrão de Nafarros Mestre.
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