Escrevo-te. Escrevo-te sempre numa carta interminável de quem não acaba nunca o que dizer-te. Palavras de amor não, nunca palavras de amor. Coisas ásperas. Coisas normais de quem tem tudo para dizer e não diz, com tudo preso na mente como um dique nos seus limites e eu o menino pequeno com o dedo na fenda para me salvar da loucura. Nada de palavras de amor: prendem-se-me nos lábios pouco habituados, são-me estranhas, como dizer meu amor e nós os dois a pairar na noite como os amantes de Chagall e tudo ser perfeito, não é nada disso do que escrevo, sou prosaico demais para essas coisas, não significam nada.
Vejo as coisas do presente e do passado e do futuro e são todas as mesmas, apenas baralhadas, não importa, como não importa o cigarro em desordem, como não importa as roupas espalhadas, ou será do avesso o cenário interior? Não importa. Escrevo-te. Não me sei definir sem as palavras escritas, a carta é sempre a carta presente, a única, só tu mudas de rosto mas decidi há muito que isso também não importava, na vida poucas coisas importam, só aqueles que viajam até ao presente connosco e não ficam no passado, aqueles que nunca precisam de cartas.
Escrevo-te dos meus anos remotos em que te amarei sempre, eterno nos dias em que te amei e vou-te contando coisas, não vieste comigo. Escrevo-te para te fazer rir, ou para te espantar, ponho-te ao corrente, não me reconhecerias na vida que me modificou, os trejeitos que fui ganhando, como cicatrizes, os jeitos de levar as coisas, as mãos torcidas de angustiado, não os reconhecerias porque vieram depois de ti.
Escrevo-te como quem mata tédios e porque estás aí, porque posso. Escrevo-te porque não sei fazer mais nada, porque escrever é tudo o que farei. Nunca haverá a última carta de todas porque escrever é como vivo. Escrevo-te sempre na carta interminável, como se fosse um rio.
Vejo as coisas do presente e do passado e do futuro e são todas as mesmas, apenas baralhadas, não importa, como não importa o cigarro em desordem, como não importa as roupas espalhadas, ou será do avesso o cenário interior? Não importa. Escrevo-te. Não me sei definir sem as palavras escritas, a carta é sempre a carta presente, a única, só tu mudas de rosto mas decidi há muito que isso também não importava, na vida poucas coisas importam, só aqueles que viajam até ao presente connosco e não ficam no passado, aqueles que nunca precisam de cartas.
Escrevo-te dos meus anos remotos em que te amarei sempre, eterno nos dias em que te amei e vou-te contando coisas, não vieste comigo. Escrevo-te para te fazer rir, ou para te espantar, ponho-te ao corrente, não me reconhecerias na vida que me modificou, os trejeitos que fui ganhando, como cicatrizes, os jeitos de levar as coisas, as mãos torcidas de angustiado, não os reconhecerias porque vieram depois de ti.
Escrevo-te como quem mata tédios e porque estás aí, porque posso. Escrevo-te porque não sei fazer mais nada, porque escrever é tudo o que farei. Nunca haverá a última carta de todas porque escrever é como vivo. Escrevo-te sempre na carta interminável, como se fosse um rio.
Saudações,
Mestre Cabrão de Nafarros
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