Conheceu tempos, em que a estrada da luz em sua frente, era de terra, e os cascos dos cavalos soavam em dias de ir por os meninos fardados, ao colégio mais acima.. esta casinha agora sem tecto, sozinha e deslocada.. não faz pena, não faz dor, como diz o poeta Ary dos Santos no fado do carlos do carmo.. pois tem no rosto um gesto de ternura.
Foi casa que viu crescer famílias, celebrou Natais e Páscoas.. e viu correr crianças a brincar.. mas hoje, ao frio e desabrigada, está triste porque não a deixam partir em sossego.. hà muito que se esqueceram dela, e pelos vistos, não houve olhar solidário, nem lágrima de nostalgia, que a fizesse melhorar a sua condição.. é só conjunto das suas quatro paredes..
Rodeada de prédios altos, nascidos hà menos tempo que ela, a Velhinha vive os seus dias porque as suas raízes a prendem ao chão.. hoje, esta já não é mais uma estrada com vida, como antigamente, e as memórias só trazem ainda mais angústia à pobre Velhinha..
Ela queria poder sair daqui, mas não hà futuro que a ponha novamente de pé.. não há alguém que a dê um tecto e a ajude a ganhar uma nova família.. mais crianças, mais Natais.. e por isso, há-de vir um dia uma máquina de dentes de aço e ferro, que a deite por terra de uma vez... essas máquinas de quatro rodas, que nunca fizeram uma amiga entre as casas que conheceram... pois não são mais que carrascas de uma estrutura que respirou, abrigou famílias de chuva e tempestades de trovões.. ouviu a música e rangeu de noite só para assustar as crianças e as ensinar a ter medo..
a Velhinha...
esta Velhinha que me fez chorar por dentro..
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