Tenho saudades do que nunca vivi

Gosto muito de Fado. Gosto mesmo! Ouvindo à pouco um fadinho da Mariza - do qual desconheço o autor, mas vou averiguar, assim Deus nosso senhor me dê saúde e paciência para encontrar a caixa do CD – apercebi-me das saudades que tenho do que nunca vivi.

E o fadinho diz assim:

“
Vielas de Alfama

Horas mortas noite escura
Uma guitarra a trinar
Uma mulher a cantar
O seu Fado de amargura

E através da vidraça
Enegrecida e rachada
E aquela voz magoada
Entristece a quem lá passa

A lua às vezes desperta
E apanha desprevenidas
Duas bocas muito unidas
Numa porta entreaberta

E Então a lua corada
Ciente da sua culpa
Como quem pede desculpa
Esconde-se envergonhada

Vielas de Alfama
Ruas da Lisboa antiga
Não há fado que não diga
Coisas do vosso passado

Vielas de Alfama
Beijadas pelo luar
Quem me dera lá morar
Para morar junto do Fado
“

A minha Alfama é assim, mas tenho saudades do tempo em que a Alfama foi assim.

E, arrastando o assunto para um pouco de sentimentalismo, tenho saudades:
- Do tempo em que a felicidade, para a maioria, não se media em Gigabytes, Downloads ou milhas de viagens aéreas;
- Do tempo em que não havia luz eléctrica;
- Do tempo em que havia lobos;
- Do tempo em que havia muita caça;
- Da mulher que hei-de ter e
- Dos filhos que hei-de ter.

Tenho saudades! Mas sou feliz. Pertenço a três núcleos duros e sou da Irmandade.

Saudações
Cabrão D´Alfama
Mestre

PS: Hoje a beber uma imperial com um amigo, lendo os anúncios de convívio do Record ele disse. "Olha: Adriana, 20 anos, busto 42, Benfica, 96 385 44 53. Foda-se é a minha namorada!" Era bluff, mas tenho saudades disso também.